terça-feira, 31 de agosto de 2010

A importância do sem importância


Esta semana eu estava no hospital e sentada comecei a observar o mundo.
Vi uma senhora que sentada numa sala olhava a TV, era estranho, ela apenas olhava, pude notar claramente que ela não assistia nada, pois sua mente estava num canto qualquer onde aquelas imagens da tela não podiam alcançar.
E comecei a perceber como muitas vezes somos assim na vida, como se estivéssemos diante de uma grande TV, as imagens passam, mas não conseguimos assisti-las, não conseguimos senti-las, o coração fica frio e a vida sem emoção.
Precisamos acordar mesmo quando pensamos que não estamos dormindo.
Mas de repente o som gritante de uma sirene a fez despertar daquele transe e os olhos se voltaram para aquele grande carro branco com a cruz vermelha.
Eu nunca gostei daquele som, sempre sinto um nó no estomago e uma vontade de chorar como se eu estivesse sofrendo com quem esta sofrendo lá dentro, creio que seja a angustia de saber que impotente e que o simples desejo de querer bem, não é a real capacidade de conseguir fazer o bem.
O som da sirene deu lugar então ao breve silêncio e desceu um motorista com uma cara de nada com coisa nenhuma, um ser que certamente não deveria ser chamado de humano, um humano que não tem a capacidade de ser, sentir... Pois abriu aquelas portas e desceu aquela maca como se estivesse abrindo um caminhão de frigorífico e retirando uma daquelas grandes partes de um boi morto.
Naquela maca eu consegui enxergar que havia uma senhora, com seus 90 e poucos anos, uma mulher que certamente é repleta de histórias e lições, alguém que com certeza teria muito que ensinar a aquele pobre motorista, uma mulher que um dia foi uma criança, que um dia correu ou brincou de boneca, uma moça que teve seus amores e desamores e que certamente na sua mocidade jamais imaginou um dia estar naquela maca.
Um contraste de vidas e sentimentos...
Para o motorista era apenas mais um dia de trabalho, mais uma vez que ele teria que fazer o esforço de descer uma maca da ambulância, era apenas um dia em que ele enfrentava o trânsito para ganhar o seu pão de cada dia, era apenas uma maca, apenas uma velha.
É estranho como muitas vezes não damos importância ao que realmente importa, muitas vezes somos pegos pelas palavras “É apenas”
É apenas um pão.
É apenas um cachorro.
É apenas um cigarro.
É apenas um sorriso.
É apenas um tiro.
É apenas um abraço.
É apenas mágica
É apenas um beijo
É apenas uma criança
É apenas um carinho
É apenas atenção
É apenas uma dor
É apenas uma tapa
É apenas lagrimas
É apenas amor
É apenas fé
É apenas uma oração.
É apenas uma velha
É apenas uma vida!
E a pouca importância vai se alastrando, vai tomando conta do coração e quando menos percebemos estamos como o motorista ou como à senhora que assistia TV.
Estamos apenas estamos.
Não sentimos.

Beijos
Rê Pinheiro

8 comentários:

  1. Rê,
    Sua percepção crítica da realidade, dos sentimentos, do ser humano é incrível... você seria uma ótima Assistente Social hehehehe, as vezes sinto medo de com o passar do tempo e das circuntâncias, perder minha capacidade de indignação, de crítica, de transformação...

    Obrigada por compartilhar sentimentos tão nobres!

    Ju

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  2. Olha achei seu Blog pela indicação de um amigo que é escritor, realmente ele estava correto quando me falou que você tem uma personalidade incrível na forma de escrever.
    Adorei sua maneira densa e precisa em expressar sentimentos e emoções, sua clareza atrai e desperta desejos.
    Meus parabéns "Divina Inspiração" és divinamente única.

    Abraços

    Leonardo Verissimo

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  3. Que linda reflexão!As pessoas estão doentemente egoístas que não consegue mais olhar para o outro com o coração!Perderam o verdadeiro amor, o amor do Deus que enviou seu filho por amor para nos amar..
    Falta de amor..
    Falta de amor..
    Falta de amor..
    Um beijo

    Shalom

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  4. Ju eu como assistente social seria uma ótima cozinheira... rs
    Obrigado de coração pelo carinho. Pela mensagem e peço perdão pela demora na resposta.
    Beijo grande

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  5. Leonardo, primeiramente seja bem vindo e agradeço de alma sua sinceridade um tanto exagerada. rs
    Gostaria de saber quem é este amigo, claro curiosidade nata feminina.
    Beijo

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  6. Nair como é bom vê-la por aqui, suas palavras fazem bem a alma e movimentam minha inspiração.
    Beijo muito grande de carinho e admiração.

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  7. Regiane, que legal os blogs serem parecidos... kkkk
    É o primeiro que vejo assim! Gostei muito! E seus artigos são muito bons, menina. Um texto cheio de personalidade, um olhar ímpar da vida.
    Já está convidada a participar do Caminhando Junto, ok?
    Beijo

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  8. Dizem que a gente está absolutamente sozinho quando atravessa o tunel em direção à luz, no dia do nosso nascimento, e novamente assim estaremos no dia de nossa morte, pois ela não avisa. Mas tudo certo se aproveitamos cada minuto desse milagre para amar e se deixar amar, viver intensamente, nos embeber de pura vida, e deixarmos um legado de luz espalhafa por aí... Roberto Guimarães

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